É noite fria, estou efervescente.
Mergulho no líquido, sou um bom nadador.
Mereço a medalha, cheguei ao fim da prova.
Nariz entupido, besteira salgada.
Adentro o cano, quero sempre mais.
Engulo toda a sujeira, me delicio com minha miséria.
De volta ao esgoto, de onde eu jamais deveria ter saído.
De volta ao escuro, para não mais me cegar.
Vinte e nove velas, um funeral.
Preciso de alguns canos mais para sugar o que ainda resta de mim.
A carne se move lentamente, à esquerda e à direita.
Não há ideologia nesta posição tão libertadora.
Eis a vontade do instinto, levando cada migalha.
É o canibalismo que aperta, espreme e mastiga.
Mais é menos, tortura que não tem fim.
Sapatos brilham, é a mesma lambida.
Não quero lições de quem cospe na minha cara.
Dentes serrados são apenas uma brincadeira.
Mentiras são óbvias, a indigência faz crer.
É neste imenso açougue que penso que sou uma ave.
É neste imenso açougue que penso que encontrei um lugar só para mim.
É neste imenso açougue que sou abatido mais uma vez.
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